quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


PATRIMÔNIO MODERNO

No Brasil, a invenção do patrimônio foi obra dos modernistas. Aqui, coube aos defensores do Novo à preocupação com a preservação e restauração dos monumentos do passado. Mario de Andrade, Lucio Costa, Rodrigo Melo Franco Andrade, entre outros intelectuais e artistas, deram início, em 1937, com o apoio do Ministro Gustavo Capanema ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), um ano depois da vinda de Le Corbusier e do projeto do Ministério da Educação e Saúde. Nas primeiras décadas, o alvo prioritário do SPHAN foi o patrimônio colonial, sobretudo, da região das Minas Gerais.
Nas décadas seguintes vimos não só a afirmação, mas a vitória monumental da arquitetura moderna, cujo ciclo se estendeu entre nós muito além da crise do moderno decretada na década de 1960, na Europa e EUA. Ao nosso modo, simultaneamente experimentamos e repotencializamos a tradição do novo (para usar o termo de Harold Rosemberg), algo não muito distinto das artes plásticas, com o projeto construtivo no Brasil, cujas questões continuaram a reverberar pelo menos até o final da década de 1990, com a obra instigante e paradoxal de Eduardo Sued.
Hoje, vivenciamos o momento em que o moderno é patrimônio. De saída, a questão  que se coloca é como renovar aquilo que se pretendia o novo? Claro, desde 1932, quando Philipp Johnson e Henry-Russel Hitchcock sintetizaram os princípios do “International Style” (volume sem massa, construção por planos, supressão do ornamento, equilíbrio assimétrico) ficou possível analiticamente decodificar os elementos sintáticos da linguagem moderna. A questão semântica, o outro lado da moeda, já era conhecida sob o nome de função. O léxico básico da arquitetura moderna no Brasil, nas primeiras décadas foi estabelecido, sem dúvida, pela concatenação dos 5 pontos da arquitetura de Le Corbusier no edifícios do Ministério da Educação e Saúde.  Como se tratasse de um edifício institucional público, serviu de modelo e inspiração para diversos programas similares.
Mas o problema não se resume a identificação de um vocabulário estilístico. Revitalizar, renovar, reutilizar, seja lá o que se propor com o prefixo “re”, significa enfrentar o dilema de reatualizar o novo como passado. Como situação de projeto, trata-se de uma ocasião interessante de se flagrar nossa distancia do moderno, e eventualmente nossa diferença contemporânea.
Um caso oportuno, nesse sentido, que está em curso é o do edifício-sede Instituto Vital Brazil, projeto de Álvaro Vital Brazil. Pelo menos, dois projetos estão sendo desenvolvidos, um de construção de um anexo, outro de reforma e reutilização do edifício original. Não me interessa, aqui, fazer uma avaliação qualitativa dos novos projetos, apenas pensar algumas questões de projeto que este problema coloca.
Antes de mais nada, cabe uma consideração histórica, começando pela pergunta sobre que gênero de novo o projeto de Álvaro Vital Brazil vislumbrava à época.

(continua no próximo post)






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