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O ZYX levanta voo ... Piroux, Zissou, Louis, Dédé e Robert tentam levantar voo também. Rouzat, setembro 1910 |
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Jeannine Lhemann, Royan, setembro 1926 |
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Dédé, Rouzat, 1911 |
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Automóvel Delage, Grande Prêmio do Automóvel Clube da França, Le Tréport, junho 1912 |
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Minha prima Bichonnade, Paris 1905 |
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Arlette Prevost, ou Anna la Pradvina e seus cães Chichi e Gogo, na avenida do Bosque, Paris, 1911 |
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Bibi, Arlette e Irène. Tempestade em Cannes, 1929 |
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Tempestade em Nice, 1925 |
JACQUES HENRI LARTIGUE – A vida em movimento
Muito da
anestesia contemporânea se deve ao desencanto com as promessas da modernidade.
A utopia do socialismo, a revolução russa, as vanguardas, o progresso
liberalista, a livre competição do mercado, a nova cidade, nada disso parece
ter se realizado em benefício da humanidade. O século XX firma-se como o século
das catástrofes e da destruição. Duas guerras mundiais, o holocausto, o genocídio
e a ameaça nuclear minaram qualquer perspectiva positiva, toda a confiança no
futuro e esperança no gênero humano. A iminência do fim do ambiente natural é
apenas a consequência funesta e sombria da sanha destruidora da modernidade.
Mas esta mesma modernidade,
mais do que promessas propiciou um campo inédito de experiências liberatórias
que não nos damos conta em razão de nosso ceticismo e desesperança com a
contemporaneidade.
A exposição de fotografias
de Jacques Henri Lartigue (1894-1986) no Instituto Moreira Salles do Rio de
Janeiro nos faz lembrar que a modernidade não é só tragédia, mas também um momento
de intensificação vital. As fotografias de Lartigue especialmente da primeira
metade do século, mostram “a vida em
movimento” com um entusiasmo e felicidade contagiantes.
O esporte, o
lazer, as máquinas voadoras e os carros de corrida, o passeio no parque, as
tempestades, as ressacas do mar, a beleza feminina, tudo exala um contagiante
clima lúdico, nos advertindo que a vida pode ter momentos felizes, efêmeros
talvez mas definitivamente efetivos e afetivos. Não há como não pensar na
precisa e poética definição de Baudelaire de que “A modernidade é a tensão
entre o efêmero e o eterno”, ou seja, na busca da integridade do transitório.
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Zissou, Rouzat, 1911 |
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Coco, Hendaye, 1934 |
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Louis, corrida de bobsleighs, Rouzat, 1911 |
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Zissou, Rouzat, 1908 |
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A sombra e o reflexo: Bibi, Hendaye, 1927 |
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Gérard, Willenmetz e Dani, Royan, 1926 |
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Renée Perle, Biarritz, 1930 |
O entusiasmo
pela vida exalado pelas fotografias de Lartigue tem, a meu ver algo da
vivacidade de um Monet e da “Alegria de viver” de Matisse. A liberação do
corpo, o frenesi cinético da velocidade, a excitação do voo e a atração pelas
máquinas voadoras, a futilidade das “mulheres casaco de pele” (inevitável não
pensar em Saul Steinberg) em seu passeio pela Avenida das Acácias, enfim, os motivos do fotógrafo denotam um
sentimento positivo da existência, no limite um otimismo vital. Não há
psicologia nesses retratados, apenas descarga de energia corporal, puro fruir.
Sem drama, apenas movimento captado em sua mais intensa manifestação. Uma
pirueta na piscina, um mergulho no mar, um salto para agarrar a bola, um golpe
da raquete num jogo de tênis, um refrescar-se com jato d’água, um deitar-se ao
sol, um deleitar-se à sombra, um equilibrar-se contra a tempestade, um
exibir-se aos olhares, tantos são os instantâneos fixados com extremo frescor e
espontaneidade. E com humor e comicidade sutis, inclusive nos títulos
atribuídos, na ausência de constrangimento em situações banais ou nas mais
artificiosas, na pose forçada sem disfarce, por pura diversão. Talvez seja essa
justamente a razão de sua felicidade: a ausência de tensão moral, de uma ação
plena e exterior que pode ser entendido como um bem-estar consigo mesmo, na
medida em que tudo está em conexão sem esforço ou intenção aparente.
Tudo parece não
ter peso, seja físico, psicológico, moral ou histórico. Corpos e objetos deslizam,
alçam voo, flutuam, giram no espaço; chão e céu ora se confundem como nas tiradas da praia,
ora se contrastam como nos locais de competição de planadores. O peso da terra
é sombrio, o vazio do céu é luminoso e entre eles corpos em suspensão.
Daí a ansiedade
de Lartigue para, de alguma forma, capturar esses momentos felizes da vida. E
isso se fazia não só pela captura do instantâneo fotográfico. Lartigue fazia
questão de registrar sua existência cotidiana em diários, nos quais sempre
começava pelo registro da condição climática e terminava com uma nota para o
dia transcorrido. Outro dispositivo para eternizar o transitório, de
efetivamente captar não apenas a imagem, mas a atmosfera, o clima, os odores,
as sensações, as cores, os afetos, seriam os álbuns nos quais efetuava uma
verdadeira operação de montagem construtivista sentimental, colando séries
temáticas (como os mergulhos na piscina, o dia na praia) cuja simultaneidade de
imagens dá a atmosfera do momento. Tornar esses momentos tangíveis, perenes na
memória o levou a explorar técnica estereoscópica, que dá um efeito de 3D, ou
seja, de profundidade espacial e relevo.
Não há como não
apontar a indisfarçável identificação do fotógrafo com o seus motivos, sempre
familiares, domésticos mesmo, na companhia dos familiares, dos amores, dos
amigos. Ele não se oculta por trás do mecanismo, não se ausenta da cena, ao
contrário, está sempre incluído nela, participa dos eventos que captura. O fato
de utilizar preferencialmente câmaras manuais, definitivamente próximas ao
corpo, com um disparador direto, não é casual, permite um vínculo direto entre
o olhar e movimento para que mira, enquadramento e disparador sejam acionados
no momento exato.
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Diário agenda, 1914 |
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Albúm 1927 - Da série A sombra e o reflexo
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Na banheira com meu hidroplanador de hélice eólica. Foto tirada com minha
block-note Gaumont apoiada numa tábua, obturador disparado por Dudu.
Paris, Rua Cortambert, 1904. |
É claro que há
um fundo de melancolia, inevitável a quem vive integralmente a modernidade como
apontou Baudelaire, melancolia daquele que vive a tensão de fixar o
transitório, mas sabe que ele se esgota rápido. Guardá-lo na memória, mesmo com
plena consciência de sua insuficiência e incompletude, é uma alternativa
possível. O entusiasmo pela vida em movimento, Lartigue bem o sabe, é um
instante de felicidade que logo passa e o que persiste é a modorrenta rotina e
a coerção do mundo do trabalho. Lartirgue era um típico dandy, que resistia ao utilitarismo capitalista, um burguês que
aproveitou o quanto pode a disponibilidade moderna, muito embora tenha passado
por momentos trágicos do século XX. Um “avestruz”, tal qual ele mesmo se
designava, preferiu mergulhar no mundo da juvenil felicidade privada, ao invés
de ocupar-se dos acontecimentos trágicos da vida adulta.
JACQUES HENRI LARTIGUE – A vida em movimento
15
junho a 15 setembro
Instituto
Moreira Salles – IMS - Rio de Janeiro
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